quarta-feira, 13 de junho de 2007

DUPLIPENSAR

O dicionário da Língua Portuguesa me oferece um sinônimo de confraria: irmandade. Essa definição me levou um passo à frente buscando uma definição, mesmo que ela me saltasse aos olhos, para irmandade: fraternidade. Essa busca por definições, que parecem tão óbvias, me foi incentivada pelas recentes publicações e comentários neste Blog. O domínio da palavra e do discurso parece estar em disputa. As recentes, e não menos constantes, agressões entre os publicantes deste espaço estão gerando um processo, ou um espaço, que posso classificar de inúmeras maneiras, menos de irmão ou fraterno.
Então, me parece que estamos em 1984. Não estou falando de um retrocesso na linha do tempo, mas um mergulho ao sistema em que viviam os personagens do grande clássico do escritor e jornalista George Orwell, 1984. Winston, personagem principal da obra de Orwell trabalhava no Ministério da Verdade. Ironicamente, sua atribuição e de todos os seus colegas de trabalho era apagar todas as notícias, registros sobre o passado. Fotos, recortes de jornal, obras inteiras eram destruídas para que ninguém se lembrasse do mundo de antes do sistema. E, assim a História era reescrita todos os dias. O Ministério da Paz era o maior alimentador e responsável pela Guerra. Guerra contra inimigos que, há alguns anos eram aliados. Inimigos, que dentro de pouco tempo e algum trabalho do Ministério da Verdade se tornariam aliados novamente.
Para aceitar, e entender, distinções tão opostas para uma mesma palavra era usado o duplipensar. Só com esta ferramenta do sistema é possível compreender e aceitar como irmãs paz e guerra, amigo e inimigo, saciedade e fome e assim sucessivamente. Acho que somente com usando o duplipensar posso entender este blog neste exato momento como a Confraria da palavra.
Analogias a parte e de volta a 2007, espero que possamos continuar comunicando, livremente, neste Blog. Com erros de gramática ou com repetições de erros históricos (como atribuir à Idade Média o título de "escuros tempos") espero que possamos viver a Confraria da palavra sem precisarmos usar do artifício manipulador que Orwell mostrou em sua obra, e parece estar mais vivo do que nunca hoje.
Um grande abraço!

6 comentários:

Álvaro S.Frasson disse...

Bom texto. As sitações engrandecem sua redação.

Só não condordo quando fala de erro histórico chamar a Idade Média de "escuros tempos", como citei no meu texto. Idade média, pode ser caracterizada, sim, como Idade Negra (sem qualquer analogia a cor ou raça), tempos escuros, enfim, qualquer comparação a uma época pesada da história humana, pois foi nesse período onde ocorreram inúmeras guerras (Guerra dos Cem anos, entre França e Inglaterra, como exemplo), pandemias (a Peste Negra matou 2\3 da população mundial da época) e a baixíssima produção cultural, cerciada pela inquisição católica. Não falo por mim, e sim embasado nas aulas de história do professor Antônio do curso e colégio Energia. Ele, aliás, já foi professor de história da UnB.
Posso perguntar de novo para ele para tirar a dúvida, mas assim pode ser chamada a idade média como tempos escuros.

Obrigado

Álvaro S.Frasson disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Álvaro S.Frasson disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
O que temos: disse...

Apesar de não querer escrver mais agradeço desde já seu texto, que serviu para mim já que me desculpo por lavar roupa suja em um espaço tão legal que temos.
Gosto muito de ler seus textos Tiago e consigo ver neles a coesão, o cuidado...Sou sua fã!

De verdade!
Mais uma vez , desculpe-me e continue escrevendo...
Um abraço!

Ademar "Marreta" Corrêa disse...

Bom, Zé Mutante a História de cursinhos e a maneira como os discursos históricos são tratados, em cursinhos e escolas, é muito restrita e descontextualizada. O discurso da Idade das Trevas já foi superado há muito tempo. Superado com muito embasamento teórico e excelentes obras. A negação da produção histórica e cultural na Idade Média foi um discurso adotado, e exaustivamente divulgado, pelos Resascentistas. Os "iluministas" do Renascimento negavam qualquer pordução no período medieval e atribuíam o seu tempo como o século das luzes. E, para afirmar seus ideais não aceitavam nehum diálogo com o que fora produzido no período que os antecediam. Certamente morreram muitas pessoas durante a Idade Média, claro que a Inquisição levou muitos à fogueira ou forca. Mas, em que período da História não aconteceram coisas desse tipo? E o assassinato de milhões de nativos nas Américas durante os séculos das luzes!?
Claro que você pode repetir a História que aprendeu no Energia. Mas, não se esqueça que lá eles também vão falar no "Grito de Independência", "No descobrimento do Brasil"...

Pelo teu nível cultural e de seus textos que eu apontei esse aspecto sobre a Idade Média. E, como já fui acadêmico de História na UFSC me senti na obrigação de apontar tal ingenuidade. Afinal, não se fala em Idade das Trevas ou noite de mil anos há muito tempo...

Álvaro S.Frasson disse...

O.K Tiago. Com certeza a história é escrita e repassada por quem vence. E não quis comparar o nível de ensino de história de um cursinho com uma universidade,principalmente com a UFSC - apesar de que o professor Antônio poderia perfeitamente dar aulas na federal, ele, inclusive, defendeu seu pós-doutorado na França, claro falando francês, e dá para contar nos dedos professores com tal currículo como o dele, o admiro muito, mas isso não vem ao caso.

Realmente as histórias são diversas, mas utilizei-me da história oficial, não que seja a melhor - claro que geralmente é a pior - e o termo Idade das Trevas sim é ultrapassada, mas as justificativas que a deram esse rótulo acho que nem tanto. A produção cultural dessa época realmente foi ofuscada pelos iluministas, mas suas contribuições para a humanidade talvez não tenha sido de tanta importância como em outras épocas (na antigüidade com os filósofos e matemáticos gregos, Aristóteles por exemplo, e a maior de todas as mentes humanas, Leonardo da Vinci, pertencente a Idade Moderna).

Mas excelente que você tenha postado esse comentário. Curti tuas justificativas e tuas colocações para contrapor meu texto.

Só não gostei quando falaste que apontou esse aspecto pelo meu nível cultural. Pelo meu texto sim, pois foi sobre ele que você defendeu essa coisa ultrapassada de Idade das Trevas. Nível cultural, porém acho que não seria a melhor justificativa. Cultura não é só história e se quiser podemos falar sobre cultura outra hora. Mas tudo bem. Gostei dos teus argumentos. Parabéns.

Obrigado